Tradicionalmente considerados as criaturas mais inteligentes da vida selvagem, os primatas agora terão que dividir esse crédito com as aves. Pelo menos é o que diz um estudo publicado na edição de ontem do periódico “Proceedings of the National Academy of Sciences”.
De acordo com a pesquisa da neurocientista Suzana Herculano-Houzel, corvos, araras e papagaios, apesar de terem cérebros significativamente menores que os de muitos primatas, contam com uma impressionante densidade de neurónios povoando esse espaço ‘compacto’.
— O cérebro dos pássaros é pequeno, mas vemos ali uma grande concentração de neurónios, superior à conhecida em muitos mamíferos — destaca Suzana, que apresentaria o estudo no Congresso Mundial sobre o Cérebro, em Buenos Aires, mas teve seu voo cancelado e não pôde participar do evento.
— As aves desenvolveram comportamentos cognitivos complexos: têm discernimento para resolver problemas, reconhecem-se em um espelho e se planeiam para necessidades futuras, entre outros papéis que considerávamos exclusivos dos primatas.
O estudo de Suzana confirma outro realizado com pombos há dois anos, que demonstrou que a ligação de neurónios — e, portanto, o funcionamento de todo o cérebro — nas aves era semelhante à de mamíferos.
Agora, a neurocientista pretende estudar a relação entre o número de neurónios das aves e o custo metabólico para que as espécies realizem suas atividades. Estima-se que a quantidade de energia demandada pelo cérebro para a realização de atividades seja maior entre as aves do que aquela observada entre os mamíferos.
Este é o primeiro estudo publicado por Suzana desde que ela trocou a UFRJ pela Universidade Vanderbilt, em Nashville, nos EUA (o trabalho já estava pronto quando ela deixou o Brasil). A neurocientista saiu do país criticando abertamente a falta de recursos públicos para a ciência e a inovação, o que motiva a “fuga de cérebros” para o exterior.
— Meu novo laboratório é de três a quatro vezes maior. A verba também nem se compara — garante a cientista. — Em breve, duas estudantes do pós-doutorado que trabalhavam comigo no Rio virão para cá.
fonte: O Globo