O ‘boom’ da ovnilogia deu-se entre os anos 40 e 80, mas desde o tempo dos descobrimentos marítimos portugueses que há relatos de fenómenos celestes incompreensíveis e avistamentos de objetos não identificados. No entanto, poucos relatos serão mais impressionantes do que aqueles que são relatados por pilotos profissionais. Como o episódio que envolveu militares da Força Aérea Portuguesa na Base Aérea da OTA, a 2 de novembro de 1982.
Naquela manhã de céu perfeitamente limpo, o Tenente Júlio Guerra e os alferes Carlos Garcês e António Gomes fizeram-se à pista para um habitual voo de treino. Já em pleno voo, por volta das 10h50, Júlio Guerra, a bordo de um Chipmunk, apercebeu-se da presença de um objeto brilhante, que se deslocava de Norte para Sul. Estaria a voar a 5500 pés de altitude, sensivelmente, sobre a pequena freguesia de Vila Verde dos Francos (Alenquer). "Lembro-me dos acontecimentos desse dia como se tivesse sido ontem!", garante Júlio Guerra, hoje piloto da aviação comercial, à ‘Domingo’. "Primeiro pareceu-me ser apenas o reflexo do cockpit de um avião a jato. Uma vez que aquela era a zona que me estava atribuída, voltei imediatamente para a esquerda para identificar o possível avião. Mas qual não é o meu espanto quando, dando uma volta de 180 graus, vejo uma bola brilhante e metálica, que começou a descrever uma elipse em meu redor", recorda.
Piadas na torre
A situação começa a ser estranha e Júlio Guerra contacta a torre de controlo para que o informassem sobre o tráfego aéreo na zona. Qual não é o seu espanto quando, do lado de lá, lhe garantem que não há qualquer aparelho no ar. A situação provocou até alguns gracejos nas comunicações entre os militares. Júlio Guerra não se incomodou: "respondi-lhes que se achavam que aquilo era um balão que viessem até à zona ‘E’ ver com os próprios olhos!" Assim aconteceu, Carlos Garcês e António Gomes voaram para a zona onde estava Júlio Guerra avistando igualmente o objeto a olho nu. Júlio Guerra enceta-lhe então uma perseguição, apesar dos avisos de prudência dos colegas. "Eu tinha imensa dificuldade em acompanhá-lo. Tinha de fazer uma curva muito apertada com o pescoço completamente virado para o lado para não o perder de vista", conta agora o piloto.
É então que decide arriscar tudo por tudo: comunicou aos colegas que iria aproximar-se para fazer uma rota de interceção à aeronave desconhecida. Gomes e Garcês avisaram-no para que não arriscasse demasiado. Júlio Guerra não lhes deu ouvidos. Mantendo uma velocidade elevada constante, o engenho desconhecido continuava a descrever círculos em redor do monomotor, obrigando o experiente piloto a fazer curvas cada vez mais apertadas no céu.
"Confiando na minha capacidade de manobra aeronáutica mas também já um pouco cansado daquela perseguição, que durou mais de 20 minutos, decido fazer a interceção, esperando que ele passasse por trás de mim para me colocar na sua rota. Qual não é a minha surpresa, porém, quando o vejo a cair para cima de mim, a uma velocidade bruta. Ficou a uns 10 ou 15 metros, num voo algo instável, acima do avião. Pensei... ‘olha, já foste! Estimámos posteriormente que ele deveria atingir os 2500 quilómetros hora em voo horizontal e 500 km/hora na vertical. Depois desses escassos segundos voltou a ganhar estabilidade e desapareceu como um raio de luz em direção à Serra de Sintra", relembra o piloto. Anos depois, a história de Júlio Guerra foi recuperada pela jornalista norte- -americana Leslie Kean, autora do livro ‘UFOs – Generals, Pilots and Government Officials go on the Record’, que se debruçou precisamente sobre o fenómeno ovni presenciado por homens e mulheres em cargos insuspeitos, de militares a responsáveis governamentais. O seu caso faz parte da ínfima percentagem de cinco por cento para a qual nunca foi encontrada explicação.
Chuva
Não foi caso único, como o Antigo Chefe de Estado General da Força Aérea, Tomás Conceição e Silva pode constatar ao longo da sua carreira. Pelas suas mãos passaram vários relatos e relatórios sobre a passagem de ovnis pelos céus de Portugal. Ele próprio testemunhou um acontecimento insólito na base aérea de Sintra a 2 de novembro de 1959.
Nessa manhã solarenga, Évora tinha sido acometida por uma chuva de filamentos – um fenómeno conhecido por cabelos de anjo, o qual tinha sido antecedido pela passagem de dois objetos voadores não identificados sobre a cidade. Em Sintra, na base aérea, caíram também alguns desses filamentos. Conceição e Silva que se encontrava na pista prestes a iniciar um voo de treino ainda pegou em alguns. "Pareciam de gelo, pois desfaziam-se imediatamente ao toque", recorda. Mas quis o destino que em Évora esses filamentos tivessem sido recolhidos pelo professor Joaquim Guedes do Amaral, que na época era o diretor da Escola Industrial e Comercial de Évora, amigo do seu pai, astrónomo e homem muito interessado pela ciência. Dias depois "o professor Guedes do Amaral foi a minha casa e levou consigo a amostra, cuja análise ao microscópio detetou um ser em forma de aracnídeo e que se movia quando pressionado, tudo indicando que fosse um ser vivo", conta. A amostra foi deixada na Faculdade de Ciência, que alguns anos depois a perdeu num incêndio.
Nunca se chegou à verdade, tal como em muitos outros casos relatados. "Mas uma coisa é certa: os pilotos, quando veem uma coisa no céu, podem não saber o que é, mas sabem sem dúvida o que ela não é…"
Avistamentos em livro
Relatos de avistamentos de ovnis feitos por pilotos, bem como testemunhos coletivos e uma reflexão sobre lugares considerados ‘hot-spots’ foram compilados por Vanessa Fidalgo no livro ‘Avistamentos de OVNIS em Portugal’ (Edição Esfera dos Livros) que no dia 1 chega aos escaparates. O lançamento será a 19 de julho, na FNAC Chiado, em Lisboa, conduzido pelo ex-Chefe do Estado- -Maior da Força Aérea Conceição e Silva. O livro deu o mote para uma série de reportagens que a CMTV irá passar a partir amanhã, segunda-feira. F.C.
fonte: Correio da Manhã
fonte: Correio da Manhã