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Base na Lua deixa de ser ficção durante este século

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Há meio século a humanidade contemplou pela primeira vez uma imagem da Terra vista da órbita da Lua e o espaço tornou-se parte do imaginário comum. Agora há planos para uma instalação permanente ali.

Há 50 anos a NASA mostrou ao mundo a primeira fotografia da Terra tirada a partir da órbita da Lua. Foi um marco, e um dos patamares indispensáveis para o que se seguiu: a chegada à Lua dos primeiros seres humanos, em junho de 1969 - aventura incomparável na curta história espacial humana. O regresso à Lua deverá ser, aliás, uma das escalas obrigatórias para o que vai seguir-se no espaço nas próximas décadas.

Meio século depois da fotografia pioneira, a Lua continua um mundo longínquo, que apenas um exclusivo grupo de 12 homens da missões Apollo da NASA pisaram até hoje. No entanto, o futuro das viagens espaciais, ainda que repartido por múltiplos objetivos - sondas não tripuladas para outros mundos no sistema solar, e para lá dele, estações espaciais permanentes tripuladas, viagens low-cost para órbita, ou a tão ansiada e mil vezes imaginada viagem tripulada a Marte -, terá forçosamente de contemplar um retorno à Lua - como quem toma balanço para poder ir mais longe.

A Lua é, aliás, uma meta já estabelecida, e anunciada no ano passado, pela agência espacial europeia ESA, em colaboração com a sua congénere russa, a Roscosmos. A ideia é instalar uma base permanente na Lua e europeus e russos tencionam enviar para o satélite natural da Terra, em 2020, uma missão robotizada, a Luna 27, para preparar a futura base lunar.

A missão ainda terá de receber o OK em dezembro, na reunião deste ano do Conselho de Ministros dos Estados membros da ESA, de que Portugal faz parte, mas no terreno as equipas técnicas já estão a trabalhar para poderem tornar realidade a missão Luna 27 no horizonte de quatro anos.

A cooperação global

O objetivo da missão é fazer aterrar a sonda no polo sul lunar para aí procurar, medir e quantificar os recursos disponíveis, que um dia vão ser necessários para que os primeiros habitantes da Lua - astronautas, cosmonautas e, quem sabe, também os taikonautas chineses - possam ali viver e trabalhar.

Quando anunciou este objetivo, em novembro do ano passado, o alemão Johann-Dietrich Wörner tinha assumido a direção-geral da agência espacial europeia há apenas cinco meses. Mas foi muito claro quando afirmou, preto no branco, que é preciso" olhar para o futuro, para lá da ISS", a estação espacial internacional. "Devíamos procurar ter uma nave mais pequena para a investigação em microgravidade, na órbita baixa terrestre", disse Wörner, para depois propor "um núcleo habitado no lado mais distante da Lua". E explicou: "Não se trata apenas de umas quantas habitações, de uma igreja e de uma câmara municipal, mas de parceiros de todo o mundo contribuindo para esta comunidade com tecnologias de robótica, missões de astronautas e satélites de comunicações."

O patrão da ESA não adiantou prazos nem datas. Mas sublinhou a importância e os benefícios de um projeto desta dimensão que, em seu entender, deve incluir todos os parceiros disponíveis para participar. Não excluiu sequer a China, que há duas décadas lançou o seu próprio programa espacial e hoje tem foguetões, taikonautas e uma estação espacial próprios, incluindo planos para a Lua que contemplam uma missão robótica para preparar a eventual instalação de uma base lunar chinesa dentro de década e meia.

Como essa caminhada a solo da China poderá um dia ter pontos de contacto com os planos já existentes da ESA e da Roscosmos é uma incógnita, mas na visão do diretor--geral da ESA, a instalação de uma base na Lua deveria ser uma aventura global, feita de um esforço comum, "uma cooperação internacional sem limitações e com qualquer país do mundo", uma vez que, como sublinhou, "já existem suficientes problemas na Terra entre os países". O espaço, acredita Johann- -Dietrich Wörner, "pode fazer a ponte entre as diferenças", e a Lua é "uma boa proposta".

Na prática, e independentemente de outras parcerias futuras, ESA e Roscosmos já trabalham para esse objetivo e muitos não têm dúvidas de que o século XXI será o da instalação humana permanente na Lua. Um dos que assim pensam é Igor Mitrofanov, um dos cientistas principais do Instituto de Investigação para o Espaço, em Moscovo, que trabalha nesta área, e que considera que o seu país "tem de participar nesse projeto".

O primeiro passo para que ele se concretize, o estudo detalhado da geologia, dos gelos e dos elementos químicos presentes no polo sul da Lua, que permitam avaliar com rigor a possibilidade de produzir oxigénio, água e combustível, que são essenciais à instalação segura de uma comunidade de humanos, está agora dependente de uma aprovação em dezembro. Mas, mesmo que haja um adiamento, a Lua será um destino inevitável.



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