Sinal de rádio aparentemente proveniente de um sistema estelar a 94 anos-luz da Terra (800 biliões de quilómetros) apanhou de surpresa a comunidade científica. Se for detetado de novo, cientistas não descartam a hipótesede poder ser uma mensagem
O radiotelescópio russo RATAN-600 (Reprodução: Divulgação)
A constelação de Hércules, onde está localizada a estrela HD 164595 (Reprodução: Divulgação)
Nem uma semana depois do anúncio de que há um planeta parecido com a Terra mesmo aqui ao lado e que até pode ter condições potencialmente habitáveis, há novas suspeitas de vida extraterrestre a fazerem correr tinta. Se as especulações vierem a revelar algum fundo de verdade, é caso para isso: seria algo ao estilo da saga “Contacto”, em que depois de muitas noites sem dormir a pensar que não podemos estar sozinhos no universo, os cientistas que usam radiotelescópios para procurar sinais de vida inteligente provam ao mundo que não são malucos e que haverá mesmo extraterrestres a tentar contactar-nos.
Antes de saltar já para uma das hipóteses para o final desta história (a menos provável, segundo as primeiras reações), vamos aos factos.
No sábado, um blogue de astronomia tornou público que uma equipa de astrónomos russos detetou no ano passado um sinal de rádio que parece ser proveniente das imediações de uma estrela a 94 anos-luz da Terra, a HD164595. A informação - até aqui nunca partilhada entre a comunidade científica como costuma acontecer nestes casos - apanhou de surpresa os tais investigadores que, com a paixão de Jodie Foster no filme de 1997, se dedicam a perscrutar sinais extraterrestre e todos os anos despistam centenas de “falsos positivos” por não passarem de interferências de telecomunicações terrestres ou fenómenos naturais. Neste caso, o trabalho de reavaliação está por fazer, por isso a hipótese de se tratar mesmo de uma transmissão extraterrestre não pode ser descartada (ainda).
Sinal fraco porque veio de longe?
Para já, sabe-se que o sinal foi captado a 15 de maio de 2015 no radiotelescópio RATAN-600, instalado em Zelenchukskaya na cordilheira do Cáucaso, perto da fronteira da Rússia com a Geórgia. A equipa terá feito outras 39 tentativas para apanhar o mesmo sinal, sem sucesso, o que levou agora a um pedido de colaboração internacional e motivou a fuga de informação no blogue “Centauri Dreams”.
Seth Shostak, astrónomo do Instituto SETI - uma das organizações que se dedicam à pesquisa de vida inteligente e que já anunciou estar a tentar detetar um novo sinal proveniente das mesmas coordenadas -, explicou num artigo divulgado online que os detalhes russos merecem desde já algumas reflexões.
Em primeiro lugar, mesmo assumindo que não se tratou de uma interferência até de comunicações militares (foi detetado na frequência de 11GHz que pode ser usada pelo exército), não é certo que o sinal seja proveniente da estrela HD164595, isto porque o radiotelescópio russo tem um formato que permite estimar a posição do emissor na direção do sistema, mas isso não significa que não possa vir de outro lugar por descobrir na mesma direção.
Por outro lado, assinalou Shostak, as observações foram feitas usando uma largura de banda de 1 GHZ “mil milhões de vezes mais ampla que as larguras de banda habitualmente usadas na pesquisa de vida extraterrestre inteligente e 200 vezes mais larga que um sinal televisivo”. O sinal chegou à Terra “fraco”, com 0,75 janskys, o que os russos sugerem que sustenta ter sido enviado de um lugar tão distante como o dito sistema estelar (que está a qualquer coisa como 800 biliões de quilómetros da Terra, 20 vezes mais longe do que o planeta Proxima b, anunciado na semana passada). Mas Shostak contrapõe: “Será fraco por causa da distância à HD164595 ou porque há uma diluição de sinal na tão ampla largura de banda do recetor russo?”.
Captar de novo o sinal é por isso uma condição essencial para a hipótese de se estar diante de uma transmissão ser levada a sério, concorda Douglas Vakoch, da organização não governamental METI Internacional, que também se dedica à busca de vida inteligente fora da Terra. O astrónomo alinha por agora no ceticismo do colega do SETI mas o compromisso é o mesmo: tentar encontrar sinais provenientes das mesmas coordenadas. Para tal, se o Instituto SETI desde domingo tem o radiotelescópio instalado na Califórnia apontado na direção da HD164595, a METI vai fazer o mesmo com o seu telescópio ótico instalado no Panamá.
Civilização mais avançada Ainda sem qualquer confirmação, e com os cientistas a não considerarem este sinal mais promissor do que outros detetados e excluídos no passado, já há alguma conjeturas sobre quem poderá estar a contactar-nos: se for um sinal proveniente de uma civilização a 94 anos-luz da Terra, esta terá de ser muito mais avançada do que a terrestre. Se se tratar de uma transmissão em todas as direções que por acaso apanhou um recetor na Rússia, estimou Shostak, precisariam de um transmissor com uma potência de 1020 watts - “centenas de vezes mais energia do que toda a luz solar que incide na Terra.” Já se, por algum motivo, estivessem mesmo a tentar contactar-nos, precisariam de menos energia, mas mesmo assim estaria em causa qualquer coisa como toda a energia consumida pela humanidade.
Neste momento não está ainda definido um protocolo internacional de resposta, mas os investigadores da comunidade SETI têm alertado que, numa altura em que há cada vez mais missões em busca de mundos fora do sistema solar, seria importante começar a levar a sério a hipótese de algum dia ser preciso responder. Mesmo que ainda não seja desta.
fonte: Sol