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Os mistérios do passado que só o equinócio de outono revela

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É oficial: o verão deu lugar ao outono esta quinta-feira às 15h21 de Portugal. O que é o equinócio de outono? E porque é tão especial? As respostas estão na astronomia. E nas profundezas da mitologia.

O outono, como todas as estações do ano, é parte de uma aventura protagonizada pela Terra em torno do Sol. Para a entender é preciso acordar o Lewis Carroll que há em si. Imagine que o nosso planeta é um atleta que corre a uns alucinantes 29,78 km/s – a velocidade da Terra à volta da nossa estrela – numa pista com 942 milhões de quilómetros – distância total que a Terra percorre em redor do Sol. Durante essa corrida, há quatro metas intermédias pelo caminho: dois equinócios – um que anuncia a chegada da primavera e outro que dá início ao outono – e dois solstícios – que abrem as portas ao verão e ao inverno. Este ano, o equinócio de outono chegou esta quinta-feira, 22 de setembro, às 15h21 de Portugal. Mas o que tem essa hora de especial?

Acontece que a Terra não corre direita: ela anda torta porque há um ângulo esférico de 23,5º entre o plano elíptico (que descreve a órbita do planeta ao redor do Sol) e o plano equatorial (que divide a Terra em norte e sul). Esses dois planos cruzam-se numa linha reta. Se imaginarmos o céu que vemos todos os dias como uma esfera que circunda todo o planeta – a esfera celeste -, percebemos que essa linha reta a atravessa em dois pontos. Ora, o equinócio acontece sempre que a posição do Sol em relação à Terra corresponde à posição de um desses pontos. Nesse momento, os raios solares incidem no nosso planeta de modo perpendicular.

Na prática, o que significa isto? Que esta quinta-feira vai ser um dia perfeito: haverá doze horas de luz solar e doze horas de escuridão, tanto no hemisfério norte como no hemisfério sul. A diferença é que, por cá, começa o outono e lá em baixo começa a primavera. Ainda assim, os equinócios e os solstícios não acontecem no mesmo dia todos os anos. E isso acontece porque a órbita terrestre não é constante: quando a Terra está no periélio (mais próximo ao Sol) viaja mais depressa do que no afélio (mais distante ao Sol).

Na época em que nada disto se sabia porque o conhecimento científico não o permitia, a cultura maia marcou o equinócio de outono como o dia em que as maiores divindades desciam à Terra. Uma dessas divindades era Kukulcan – “serpente de plumas” -, deus da água e do vento. Como era considerada uma entidade criadora, os maias ergueram muitos templos em sua honra. Um desses templos é particularmente especial: Chichén Itzá, uma das principais pirâmides maias, que recebeu neste primeiro dia de outono mais um fenómeno que atrai milhares de visitantes.

Olhando para a escadaria do templo, pode ver-se um feixe de luz a descer degraus abaixo, ladeadas apenas por sombra. A “serpente de plumas” só é visível neste dia e durante apenas umas horas. E isto acontece porque a construção tem uma inclinação de 20º em relação ao norte geográfico, em concordância com o ângulo do sol em relação à estrutura.


Chichén Itzá no equinócio de outono. Créditos: Wikimedia Commons.

Na Irlanda, o equinócio de outono é mais especial no Forte de Greenan, uma estrutura histórica de pedra num monte com 244 metros de altura em Donegal. A sua estrutura em anel, do século VI ou VII d.C., foi pensada para se alinhar com o equinócio: um feixe de luz atravessa o anel de pedra precisamente a meio sempre que entramos no outono ou na primavera.

Também em Malta, no templo megalítico de Mnajdra do quarto milénio antes de Cristo, um raio de Sol atravessa o monumento e ilumina o seu eixo principal no equinócio de outono. Este e outros fenómenos levam os estudiosos a crer que Mnajdra era também um calendário solar.


Forte de Greenan. Créditos: Wikimedia Commons.

No Egito, um fenómeno observado na Grande Pirâmide dizia “olá” ao outono: à meia-noite do dia do equinócio em 2170 a.C. a estrela Alpha Draconis – a “estrela polar” da época – brilhou mesmo por cima do eixo central da pirâmide. Exatamente ao mesmo tempo, o sistema solar Alcyone (membro das Pleiades, à volta das quais o nosso Sistema Solar gira), estava precisamente alinhado com o meridiano da Grande Pirâmide de Gizé. Isto aconteceu de tempos a tempos, tendo a última vez ocorrido em 2004, com a Estrela Polar alinhada com o eixo central da pirâmide. O curioso é que Alcyone era parte da constelação de Dragão, associada ao deus mais mortífero da mitologia grega, Tufão. Espante-se: a Estrela Polar pertence à constelação de Ursa Menor que, associada ao deus Seth, corresponde na mitologia egípcia ao deus grego Tufão.


Grande Pirâmide de Gizé. Créditos: Wikimedia Commons.

fonte: Observador


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