Sonda Cassini, da NASA, detetou hidrogénio nas plumas daquela lua de Saturno, o que pode indicar existência de fontes hidrotermais
No oceano de água líquida que mora sob a superfície gelada de Encélado, a sexta maior lua de Saturno, existem alguns dos ingredientes essenciais à vida. Entre eles, está o hidrogénio, e em grande abundância, como acabam de confirmar os cientistas da missão Cassini, da NASA. O alcance da descoberta é imenso: ele abre a possibilidade de existir ali alguma forma de vida microbiana.
A presença de hidrogénio nas plumas de vapor que a Encélado projeta de tempos a tempos a grande altitude no espaço , e que a Cassini viu pela primeira vez em 2005, quando lá chegou há 12 anos, mostra, segundo os cientistas, que naquele pequeno mundo distante e gelado existem, afinal, as condições necessárias para haver fontes hidrotermais, um tipo de sistemas submarinos que, na Terra, são verdadeiros oásis de vida - microbiana e outra. A cinco meses do seu mergulho final na atmosfera de Saturno (ver caixa), a sonda Cassini continua assim a ter grandes novidades para contar, depois de nos últimos 12 anos ter desvendado muitos dos segredos do planeta dos anéis e das suas muitas luas.
Foi a sonda da NASA que na última década descobriu, por exemplo, algumas dessas luas e foi ela também que viu pela primeira vez, e analisou, as plumas de vapor que se escapam a alta velocidade do seu mar interior, através das fissuras que se geram na grossa camada de gelo que cobre completamente aquele pequeno mundo.
O estudo desses jatos que saem de Encélado a altas temperaturas e a uma velocidade próxima dos 2100 quilómetros por hora, atingindo uma altitude demais de 15 quilómetros em relação à superfície da lua, mostrou em 2007, para grande surpresa dos cientistas, que a constituição desse vapor é idêntica ao material primordial de que são feitos os cometas, com a presença de moléculas orgânicas.
Impunha-se, assim, fazer novas aproximações a Encélado, para recolher mais dados e aprofundar o conhecimento sobre aquela intrigante lua de Saturno, e isso acabou por suceder em dezembro de 2015. Foram as observações feitas nessa altura por um dos instrumentos da sonda que confirmaram a existência de hidrogénio nos jatos de vapor de Encélado.
Em boa hora, porque aquela foi também a última vez que a Cassini chegou tão perto daquela lua de Saturno. A missão termina este ano, em Setembro, com a autodestruição da sonda durante o mergulho programado na atmosfera do planeta dos anéis. Isso será uma oportunidade para colher imagens com uma proximidade sem precedente dos anéis e da atmosfera de Saturno e, ao mesmo tempo, garante que não haverá possibilidade de contaminação de Encélado, sobretudo sabendo-se agora que há muitas probabilidades de ali haver vida microbiana. Apesar de os dados terem sido recolhidos em dezembro de 2015, os cientistas só agora confirmaram a descoberta - publicaram ontem os resultados na revista Science - porque tiveram de fazer uma análise detalhada para descartar a hipótese de a origem do hidrogénio estar no próprio instrumento de medição da Cassini.
A presença deste hidrogénio nos vapores lançados no espaço por aquela lua de Saturno faz dela um dos três mundos do sistema solar em que os cientistas mais apostam agora como podendo albergar vida - além da Terra. Os outros são Marte, onde há praticamente a certeza de que a vida, pelo menos, já existiu, e Europa, a lua de Júpiter que também tem um oceano de água líquida interior, e que poderá, igualmente, albergar fontes hidrotermais.
fonte: Diário de Noticias