Uma imagem do local onde decorrem as escavações partilhada no Facebook pelos responsáveis do projeto
Os arqueólogos ficaram surpreendidos com a casa de dois andares, com uma escadaria interior, construída com técnicas que só se pensava terem sido descobertas muitos anos depois.
Nunca antes foi encontrada uma construção assim com tantos anos, pelo menos 2500. É "única" e "extraordinária", garantem os arqueólogos. Uma escada com dois metros e meio liga os dois andares do edifício, com cerca de um hectare, o maior alguma vez localizado naquela época tartésica (1000 a.c a 550 a.c.), a riqueza dos materiais e o seu estado de conservação, deixaram surpreendidos os investigadores do Instituto de Arqueologia do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) da Estremadura. A edição desta segunda-feira do jornal El País conta que desde 2015 que a equipa coordenada pelos arqueólogos Sebastián Celestino e Esther Rodríguez estão a trabalhar nesta escavação, localizada em Badajoz, no vale do Guadiana. Nesta construção foram detetados materiais e técnicas que se pensava só terem sido utilizadas muito tempo depois.
"A escada é um elemento arquitetónico único de uma coisa que não acreditávamos que pudessem executar nesta época. Há escadas no início da história da Península Ibérica, mas de tempos posteriores. Neste tempo as escadas tinham dois ou três degraus de pedra e adobe para proteger o desnível. Neste caso são, pelo menos, 10 degraus, pois podemos vir descobrir mais, com dois metros de comprimento, 40 centímetros de largura e 22 de altura. Os cinco primeiros estão cobertos por placas de ardósia e os inferiores são feitos de uma cantaria quadrangular com argamassa de granito esmagada e envolta em cal", explica Esther Rodriguez. "A coisa mais surpreendente foi a sua profundidade, dois metros e meio abaixo do solo, o que quer dizer que estamos a aceder a outro andar, o que o torna o primeiro edifício de dois pisos descoberto até agora nesta época", acrescenta Sebastian Celestino.
Foram também encontrados materiais numa condição "extraordinária" de conservação, como jóias, pontas de lança, contentores, sementes e restos de tecido, grades ou enormes caldeirões de bronze. A civilização pré-romana que ocupava o sudoeste da Península Ibérica no primeiro milénio a.c. levantou todos os tipos de mitos e lendas (especialmente em torno de seu declínio misterioso e fim abrupto) devido, entre outros coisas, à falta de restos materiais.
De um lado da escadaria, apareceram os corpos de dois cavalos mortos, perfeitamente colocado em posição anatómica, apontando certamente um sacrifício ritual destes animais, símbolo de luxo e que não faziam parte da alimentação, naquela época. Por outro lado, foram descobertos também vestígios de uma vaca que os habitantes consumiram, numa espécie de festa.
Apenas 10% da área da escavação foi trabalhada, o que deixa uma enorme expectativa sobre o que ainda pode vir a ser descoberto. A maioria dos edifícios naquela época, localizado a meio do Vale do Guadiana numa área que recebeu grandes fluxos de imigração do núcleo central Tartesos no Guadalquivir e Huelva, depois de uma profunda crise económica no século VI, foi destruída pelos seus próprios residentes até ao final do século V, início do IV.. Eles preferiram derrubá-los do que vê-los pilhados pelos povos do norte, de etnia celta, que estavam prestes a chegar.
fonte: Jornal de Noticias