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A genética deu-nos os primeiros crisântemos azuis

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Crisântemo geneticamente modificado

Cientistas japoneses fizeram desabrochar crisântemos azuis, uma cor que não é fácil de encontrar nas flores. Será que ainda vamos dar ou receber um bouquet destas flores transgénicas?

A natureza tem uma imensa paleta de cores e muita dessas tintas coloridas estão nas flores. Mas, tanto nos campos repletos de flores ou na florista mais perto de nossa casa, o azul é uma cor pouco comum. Menos de 10% de 400 mil espécies florais têm flores azuis, de acordo com o livro Nature's Palette: The Science of Plant Color, do biólogo David Lee. Por isso, como a natureza tem pintado pouco as flores de azul, os cientistas têm tentado fazê-lo através da engenharia genética. Pela primeira vez, foram criados crisântemos azuis transgénicos, como reporta a revista Science Advances.

É como criar uma pintura que não existe e que nem pode ser copiada da natureza. Os crisântemos selvagens são amarelos e brancos, indica ao PÚBLICO Ryutaro Aida, da Organização Nacional de Investigação Agrícola e Alimentar do Japão e coordenador do trabalho que juntou vários cientistas japoneses. Já os crisântemos de cultivo têm uma coloração rosa, vermelha, laranja ou verde. “As espécies de flores que têm flores azuis são relativamente raras”, disse ao jornal The New York Times Naonobu Noda, também da Organização Nacional de Investigação Agrícola e Alimentar do Japão e primeiro autor do estudo.

Há muito tempo que os cientistas têm tentado pintar certas flores de azul. Usando a genética, têm conseguido alguns resultados. Por exemplo, a empresa australiana Florigene criou, nos anos 90, cravos de cor violeta. E uma década depois, juntamente com a empresa agro-alimentar japonesa Suntory, a Florigene conseguiu a primeira rosa azul (que parece mais violeta). Portanto, percebe-se que esta pintura é uma tarefa complicada. 

No entanto, os cientistas tinham já algumas pistas. Sabia-se que são as antocianinas (moléculas nas pétalas, caule e no fruto) que dão à flor a cor vermelha, púrpura ou azul, o que depende da ligação dos açúcares e de outros grupos de átomos naquelas moléculas. Além disso, como explica uma notícia na revista Science, há condições dentro das células das plantas que também são importantes. Por isso, podiam até transplantar-se antocianinas de uma planta com flores azuis para outra planta para mudar a sua tonalidade, só que isso não resulta. “São necessárias condições mais complexas para conservar as estruturas que activam a coloração azul do que as que activam o roxo ou o violeta. Por essa razão é que é tão difícil obter estas condições através das técnicas tradicionais de cultivo”, explicou Naonubu Noda ao jornal El País. 

Vamos então à transformação dos crisântemos, neste caso da espécie Chrysanthemum morifolium: foram os genes de outras duas plantas com flor que os tornaram azuis. Primeiro, os cientistas adicionaram um gene das campainhas (ou Campanula medium) ao ADN dos crisântemos. A sua flor acabou por ficar púrpura. Mas a experiência não ficaria por aqui. Ainda manipularam os crisântemos com um gene da Clitoria ternatea, que tem flores azuis.


Foto Bouquet de crisântemos rosa e de crisântemos azuis transgénicos NAONOBU NODA/NARO

E eis que surgiram crisântemos azuis. Os genes das campainhas e da Clitoria ternateaalteraram a estrutura molecular das antocianinas nos crisântemos, o que os tornou azuis ou azuis-violeta, segundo os parâmetros do catálogo da Real Sociedade de Horticultura britânica. “Este resultado foi inesperado”, escrevem os cientistas no artigo científico, pois logo no segundo passo os crisântemos ficaram azuis.

A polémica dos transgénicos

“Este [resultado] tem um grande impacto”, comentou à revista Science Toru Nakayama, bioquímico da Universidade Tohoku (no Japão), e que não está envolvido no trabalho. Afinal, há muitas espécies de flores que estão à venda mas que não existem em azul. Segundo a mesma revista, o próximo passo dos cientistas é mesmo reproduzir mais crisântemos para tornar possível a sua venda. Contudo, em resposta ao PÚBLICO, Ryutaro Aida disse que não era para já: “Por agora, ainda não temos a ideia da sua comercialização. Até porque os organismos geneticamente modificados não são fáceis de comercializar.”


Foto Crisântemos rosa e de crisântemos azuis transgénicos NAONOBU NODA/NARO

Também de acordo com o jornal New York Times, os cientistas esperam que este novo método venha a ser aplicado em flores como as rosas. Ryutaro Aida ainda refere que o mesmo poderá ser feito com os lírios. “Isto poderá ter um grande valor de mercado em todo o mundo”, considera Neil Anderson, investigador em horticultura na Universidade do Minnesota (nos Estados Unidos) e que também não participou no trabalho. 

Mesmo assim, as flores geneticamente modificadas não têm tido um caminho fácil. E se na União Europeia tem sido autorizada a venda de flores transgénicas, como aconteceu com os cravos lilases, esta situação não é consensual. Por exemplo, estes cravos transgénicos geraram uma petição online europeia para impedir a autorização de venda. O documento também teve o apoio de associações anti-transgénicos portuguesas, como a Plataforma Transgénicos Fora. “Já temos flores que cheguem na Terra com belas cores, não precisamos de flores geneticamente modificadas com todos os problemas de saúde e ambientais envolvidos”, lia-se na petição.

O nome do cravo lilás é Moonaqua, foi criado pela Florigene e é cultivado no Equador e na Colômbia. Faz parte de cravos transgénicos com vários tons de azul, como o azul-forte, púrpura ou o lilás. A sua venda na União Europeia acabou por ser autorizada em 2015, juntamente com outros organismos geneticamente modificados, como o milho e o algodão. Aguarda-se agora o destino destes novos crisântemos azuis. 

fonte: Público


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