Na constelação Cassiopeia há uma estrela morta que não deveria existir. A estrela de neutrões, que acumula material de um companheiro binário muito maior, está a expelir jatos relativísticos.
A cerca de 24 mil anos-luz, na constelação de Cassiopeia, mora uma estrela de neutrões que não deveria existir, pelo menos tendo em conta o modelo atual. Esta estrela morta, que acumula material de um companheiro binário muito maior, está a expelir jatos relativísticos.
Esta estrela tem um campo magnético muito forte – característica muito incomum, dado que, até hoje, os jatos relativísticos só foram observados em estrelas de neutrões com campos magnéticos mil vezes mais fracos.
Uma estrela de neutrões é o ponto final de uma estrela massiva que, um dia, foi uma supernova. A maior parte do material da estrela explode no espaço, enquanto o núcleo colapsa em si mesmo, tornando-se num objeto superdenso com tamanha gravidade. Se a massa for abaixo de três vezes a massa do Sol, torna-se uma estrela de neutrões com cerca de 10 a 20 quilómetros de diâmetro; caso contrário, torna-se um buraco negro.
Este colapso do núcleo tem um efeito no campo magnético da estrela de neutrões, isto é, faz com que o campo magnético da estrela aumente muito a sua força, tornando-se biliões de vezes maior do que o Sol; mas depois, gradualmente, enfraquece novamente durante centenas de milhares de anos, explicou o astrónomo James Miller-Jones, da Curtin University e do Centro Internacional de Investigação em Radioastronomia (ICRAR).
A estrela em causa é parte de um sistema binário chamado Swift J0243.6 + 6124, descoberto em outubro de 2017 pelo Swift Observatory. Os jatos não são novidade, até porque são fluxos de radiação e partículas muito conhecidos no Universo. No entanto, realça o cientista, “o forte campo magnético da estrela de neutrões é uma exceção”.
“O espectro de rádio do Swift J0243 é o mesmo de jatos de outras fontes e evolui da mesma maneira”, disse Van den Eijnden. “Pela primeira vez, observamos um jato de uma estrela de neutrões com um forte campo magnético.” As conclusões foram publicadas recentemente na revista Nature.
Aliás, não é um campo magnético forte qualquer: o campo magnético ao redor Swift J0243.6 + 6124 da estrela de neutrões é de 10 biliões de vezes mais forte do que o do Sol. Esta característica desmente a teoria do campo magnético sobre a supressão de jatos e apela a uma nova investigação em torno de como são produzidos e lançados os jatos.
Até agora, pensava-se que os jatos das estrelas de neutrões eram canalizados a partir do campo magnético na parte interna do disco de acreção. Mas se o campo magnético for muito forte, poderia impedir o disco de ficar perto o suficiente para serem desencadeados. Exceto se esta nova descoberta colocar tudo o que sabíamos até hoje no lixo.
“Não sabemos qual a explicação. Mas, independentemente disso, a nossa descoberta é um grande exemplo de como a ciência funciona, com teorias a serem desenvolvidas e constantemente revistas à luz de novos resultados experimentais”, conclui Van den Eijnden.