Uma visão possível do Barnard b
Foram necessários 20 anos de dados e sete instrumentos para os cientistas conseguirem identificar este novo exoplaneta. Está a seis anos-luz daqui - muito perto, considerando as distâncias astronómicas do universo.
Há um novo exoplaneta nas proximidades do sistema solar. É um mundo rochoso, gelado e sombrio, com pelo menos três vezes a massa da Terra, e nada indica que possa ter condições para a vida tal como a conhecemos, mas tem várias particularidades que fazem dele um mundo interessante para os astrónomos. Uma delas é que está aqui, quase ao virar da esquina, na órbita da estrela de Barnard, a escassos seis anos-luz de distância - um pulinho, considerando a imensidão do universo.
Mas há mais. O Barnard b, como entrou para a catálogo geral destes mundos extra-solares, é o segundo planeta extra-solar mais próximo deste cantinho da Via Láctea até hoje identificado.
Em 2016 os astrónomos descobriram um exoplaneta ainda mais próximo daqui, na órbita da estrela Proxima Centauri, com massa idêntica à da Terra e condições que não tornam impossível a vida ali. Mas esse exoplaneta está num sistema de três estrelas, e o que agora foi descoberto orbita uma estrela individual, como é o caso do Sol, embora as suas naturezas sejam diferentes. A estrela de Barnard, assim chamada em homenagem ao astrónomo que a caracterizou, é uma anã vermelha, o que quer dizer que é uma estrela fria de pequena massa e bem mais antiga do que o Sol.
A descoberta do Barnard b, que é anunciada hoje num artigo publicado na revista Nature, é importante por tudo isto, mas também porque foi o resultado de uma das maiores e mais longas campanhas de observação astronómica na busca de exoplanetas, que envolveu a participação de múltiplos instrumentos.
Na verdade, há muito que se suspeitava de que a estrela de Barnard deveria ter algum planeta na sua órbita, mas apesar da longa busca, só agora foi possível confirmar a sua presença.
Para o conseguir, a equipa de astrónomos liderada por Ignasi Ribas, dos institutos de Estudos Espaciais da Catalunha e de Ciências Espaciais de Espanha, passou a pente fino duas décadas de dados observacionais de vários telescópios.
"Usámos observações de sete instrumentos diferentes, correspondentes a 20 anos de medições, o que faz desta a maior e mais extensa base de dados alguma vez utilizada no estudo de velocidades radiais muito precisas," explica Ignasi Ribas, sublinhando que a combinação de todos os dados levou a 771 medições no total ", uma "quantidade de informação enorme".
Entre os instrumentos utilizados, os espectrógrafos instalados nos telescópios do European Southern Observatory (ESO), no Chile, que têm justamente como propósito identificar exoplanetas, tiveram um papel decisivo, como sublinha a própria equipa.
"O HARPS desempenhou um papel vital neste projeto. Combinámos dados de arquivo de outras equipas com medições novas da Estrela de Barnard obtidas por diferentes infraestruturas," conta, por seu turno Guillem Anglada-Escudé, da Universidade de Queen Mary, em Londres, o outro coordenador da equipa. "A combinação dos instrumentos foi crucial para verificarmos o nosso resultado", garante.
A descoberta do novo exoplaneta foi feita através do chamado método das velocidades radiais, que mede as variações provocadas na velocidade de uma estrela pelos exoplanetas na sua órbita. Esta foi a primeira vez que se fez uma deteção com este método de uma super-Terra com órbita tão extensa em torno da sua estrela. E a sua proximidade da Terra faz dele um potencial alvo de estudo para nova geração de instrumentos que a partir de 2020 vão conseguir obter imagens dos exoplanetas.
fonte: Diário de Noticias