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Igreja mais antiga do Porto encerra uma lenda com mais de 1500 anos

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São memórias com mais de 1500 anos aquelas que fazem a história da igreja mais antiga da cidade do Porto, a Igreja Românica de Cedofeita, que fica no Largo do Priorado, e que é, também, a segunda mais antiga do país, logo a seguir à Sé de Braga.

Apesar de apenas existirem documentos que permitam datar a fase de construção plenamente românica do templo, muitos são aqueles que já ouviram falar de uma lenda que remonta à dinastia sueva do século VI. Por isso, o nome de Teodomiro, o rei suevo que terá mandado construir a igreja para tentar salvar o filho doente, não é estranho aos habitantes do Porto.

Segundo a lenda, o desespero de Teodomiro em relação ao debilitado estado de saúde do seu filho Ariamiro levou-o a fazer uma promessa a São Martinho de Tours. Acreditando que essa poderia ser a salvação do descendente, o monarca prometeu, então, mandar construir uma igreja dedicada ao santo. Uma promessa que se cumpriu, depois de Teodomiro ter enviado, também, ouro e prata. Depois disso, quando um bispo entregou ao filho do rei uma relíquia de São Martinho, ter-se-á dado a cura. E, ainda segundo a lenda, aquele templo foi construído com tal rapidez que passou a ser chamado de "Cito Facta" que, em português, significa "Feita Cedo". Daí, terá derivado o nome que hoje todos conhecem: Cedofeita.


Hoje, olhando para a igreja, quase parece que não existem marcas da passagem do tempo ou do uso do espaço

Histórias e lendas à parte, como salientou Leonor Botelho, do Departamento de Ciências e Técnicas do Património da Faculdade de Letras do Porto (FLUP), no ciclo de conversas "Um objeto e seus discursos" organizado pela Câmara do Porto, "só é possível associar" a Igreja de São Martinho de Cedofeita "a uma arquitetura de um românico tardio, já do século XIII". Como referiu a professora, "hoje, olhando para a igreja, quase parece que não existem marcas da passagem do tempo ou do uso do espaço". Contudo, sublinha, "claro que o edifício não permaneceu sempre assim". Pelo contrário: Leonor Botelho afirma que a Igreja de São Martinho de Cedofeita é mesmo "um dos edifícios que mais foram modificados no século XX".


Antes, havia, por exemplo, um claustro e um conjunto de dependências que, mais tarde, desapareceram. Alterações que se devem a um tipo de "restauro que quis salientar o caráter rural do edifício", inserido numa zona que só muito mais tarde começou a ter a movimentação característica das cidades. Um restauro de "caráter laico", que foi, também, responsável por "uma certa limpeza" da igreja. "Foram removidos todos os elementos da época barroca e o granito permanece com uma limpeza aparente", porque, como revelou Maria Leonor Botelho, pretendia-se "preservar a ideia de uma igreja una", sem artefactos. Por isso, mesmo que hoje os visitantes, ao entrarem na Igreja de São Martinho de Cedofeita, fiquem com a impressão "de que se trata de um edifício cuja construção foi rápida e ordenada", importa lembrar que "muitas foram as camadas" que se foram sobrepondo naquele templo, como sublinhou Sara Rocha, a historiadora de arte e especialista em iconografia que, no ciclo de conversas sobre a Igreja Românica de Cedofeita, contou aos 80 participantes a vida de São Martinho, "o santo popular de que muitos conhecem apenas a famosa lenda da divisão do manto e o verão de São Martinho".

Para Elvira Rebelo, da Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN), "aquilo que mantém vivos os monumentos é a estima das pessoas". Desde 1910, a Igreja Românica de Cedofeita é monumento nacional.



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