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Os robôs e a vida artificial são contemporâneos de Homero

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Há milhares de anos, na era de Homero e Hesiodo, as lendas versavam já sobre os conceitos associados à criação de vida artificial e aos robôs. Segundo revelou uma nova investigação levado a cabo pela Universidade de Standford, nos Estados Unidos, os mitos de Talos e Pandora são a prova disso mesmo.

Por norma, os historiadores balizam a ideia dos autómatos por volta da Idade Média, época em que começaram a ser inventados os primeiros dispositivos de movimento automático.

Contudo, e segundo explica Adrienne Mayor, investigadora do Departamento de Clássicos da Faculdade de Ciências Humanas e Ciências daquela universidade, o conceito de criaturas reais e artificiais remonta a mitos e lendas criados há pelo menos 2700 anos

“A nossa capacidade de imaginar a inteligência artificial (IA) remonta aos tempos antigos”, disse Mayor citada em comunicado. “Muito antes dos avanços tecnológicos tornarem possíveis os dispositivos automáticos, foram exploradas ideias sobre a criação de vida artificial e robôs em mitos antigos”, sustenta.

Os pioneiros Homero e Hesiodo

De acordo com a investigadora, que publicou em novembro passado um livro sobre o tema intitulado: “Deuses e Robôs: Mitos, Máquinas e Antigos Sonhos de Tecnologia”, os primeiros objetos associados à IA e aos robôs foram mencionados no trabalho dos antigos poetas gregos Homero e Hesiodo, que viveram entre 750 e 650 a.C.

A título de exemplo, Mayor toma a história de Talos, mencionada pela primeira vez em 700 a.C por Hesiodo, afirmando que esta obra oferece uma das primeiras conceções de um robô. Segundo conta a mitologia, Talos era um homem de bronze gigante que foi construído por Hefesto, o deus grego da invenção e da ferraria. Talos foi encomendado por Zeus, o rei dos deuses gregos, para proteger a ilha de Creta dos invasores. Depois de ter sido construído, Talos marchou pela ilha três vezes por dia, atirando pedras nos navios inimigos que se aproximavam da ilha.

Na sua essência, o gigante de bronze tinha um tubo que se estendia desde a cabeça até um dos seus pés carregando uma misteriosa fonte de vida a que os gregos chamavam de icor. Argonautica, um outro texto antigo datado do século III a.C, versa sobre como é que Medeia, uma feiticeira da mitologia grega, derrotou Talos, removendo-lhe um alfinete do tornozelo, fazendo com que o líquido saísse do seu corpo, apontou Mayor.

O mito de Pandora

A historiadora aponta ainda o mito de Pandora como outros dos exemplos que comprova que as conceções associadas à IA são mais antiga do que julgávamos. Descrito pela primeira vez na Teogonia de Hesíodo, configura outro exemplo de um ser artificial mítico.

Embora várias outras versões posteriores retratem Pandora como uma mulher inocente que inadvertidamente abriu uma caixa do mal, Mayor explicou que a história original de Hesíodo descreve Pandora como uma mulher artificial e maléfica, também construída por Hefesto e enviada à Terra por ordem de Zeus para castigarem os homens por estes terem descoberto o fogo.

“Pode argumentar-se que Pandora era uma espécie de agente de inteligência artificial”, considerou a investigadora, acrescentando que a “sua única missão era infiltrar-se no mundo e libertar o seu cântaro de miséria”.

Além de Talos e Pandora, o mítico Hefesto projetou vários outros objetos que se moviam por si mesmo, incluindo um grupo de servos automáticos, semelhantes às mulheres, mais feitos de ouro, afirmou Mayor. De acordo com o relato de Homero sobre o mito, Hefesto deu a estas mulheres artificiais o conhecimento dos deuses e, por isso, considera a investigadora, estas podem considerados como uma antiga versão mítica de IA.

As implicações éticas e morais no trabalho desenvolvido por Hefesto eram também já abordadas nos antigos mitos analisados pela investigadora. “Nenhum destes mitos tem um bom final, uma vez que os seres artificiais são enviados para a Terra”. “É quase como se os mitos dissessem que é muito bom ter [estes objetos] artificiais no céu usados pelos deuses. Mas uma vez que estes interagem com os humanos, temos o caos e a destruição”.

Para Adrienne Mayor, a mitologia sublinha o fascínio da Humanidade pela vida artificial: “As pessoas têm o impulso de imaginar coisas que ainda não são possíveis. Existe uma ligação intemporal entre a imaginação e a Ciência”, rematou.

fonte: ZAP


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