Uma nova investigação científica apresenta mais uma teoria sobre o Oumuamua, o misterioso objecto espacial que foi encontrado, em 2017, no nosso sistema solar. Desta feita, a conclusão é de que só pode tratar-se de um cometa muito estranho.
Não se sabe de que é feito, nem de onde veio, nem tão pouco o que é, mas abundam as teorias sobre o Oumuamua. Já foi definido como um cometa, um asteróide e até uma nave extraterrestre, sendo definido como um objecto interestelar que terá sido “chutado” de outro sistema estelar por um planeta gigante.
Certo é que o Oumuamua apresenta um comportamento diferente de tudo o que já se conhecia e isso pode explicar-se pelo facto de ser, simplesmente, um cometa muito estranho. Esta é a conclusão de uma investigação norte-americana realizada por elementos da Universidade de Yale e do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), com o apoio do Instituto de Astrobiologia da NASA.
De acordo com a pesquisa que foi aceite neste mês de Março para publicação no jornal científico Astrophysical Journal Letters, o Oumuamua enquadra-se no perfil de um cometa com propriedades estranhas.
O “objecto mostrou sinais de uma aceleração pequena, mas persistente, que não poderia ser explicada apenas pela atracção gravitacional do sol”, constatam os investigadores no comunicado divulgado pela Universidade de Yale.
A aceleração do Oumuamua explica-se pela “ventilação do gás que foi aquecido pelo sol”, um processo de “desgaseificação” que acontece regularmente com os cometas, segundo os autores do estudo.
“À medida que um cometa se aproxima do Sol e aquece, o seu gelo irrompe num jacto“, constatam, apontando que “as ´caudas` dos cometas são formadas quando partículas de pó são apanhadas no jacto e reflectem a luz do sol”.
Todavia, o Oumuamua não dá sinais de ter qualquer ´cauda`, nem apresenta o giro que seria provocado por um jacto de gás. Algo que o professor de Astronomia Gregory Laughlin, investigador de Yale ligado à pesquisa, explica com o facto de o gás de ventilação do Oumuamua não irromper de “um ponto único fixo na superfície”. “Em vez disso, os jactos migram ao longo da superfície, acompanhando o calor e rastreando a direcção do Sol”, destaca.
Assim, em vez de girar como um típico cometa, o Oumuamua “balança para a frente e para trás como um pêndulo“, acrescenta Laughlin.
Este balanço explica também o padrão periódico de luminosidade do Oumuamua, segundo os autores da pesquisa.
As conclusões são, contudo, encaradas com cepticismo por alguns cientistas, como é o caso de Roman Rafikov da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, que considera que “a saída de gás deveria ter mudado a rotação do Oumuamua”, como cita o site Skyandtelescope.com.
“Os astrónomos viram a aceleração do corpo cair por um factor de quatro desde o final de Outubro até ao final de Novembro de 2017, quando o objecto se afastou do sol”, frisa Rafikov. “Se esta mudança tivesse acontecido por menos luz do sol estar a chegar ao objecto e, assim, sublimando menos gelo, então o período de queda de tipo pêndulo do Oumuamua deveria ter dobrado, o que não foi observado”, conclui.
Laughlin admite que aquele seria o cenário previsível. “Contudo, o período de informação precisa é, realmente, apenas das quatro noites de 24 a 25 de Outubro e de 27 a 28”, diz, realçando que observações feitas um mês mais tarde mostram uma mudança, mas não se sabe em que sentido.
Deste modo, o mistério do Oumuamua vai continuar. Nesta altura, o objecto já passou para lá da órbita de Saturno e deverá demorar uns 10 mil anos até deixar o nosso sistema solar.
Os investigadores alegam que quase todas as estrelas da galáxia podem ejectar este tipo de objectos durante o processo de formação de um planeta. Assim, a nova geração de telescópios, cada vez mais sofisticados e com ligações online, pode ajudar a detectar outros “intrusos interestelares” nos próximos anos.