Este era o aspecto provável da ilha de Tera antes da derradeira erupção vulcânica, datada pelos investigadores entre os anos 1600 e 1623 a.C. Um ramo de oliveira descoberto entre a cinza vulcânica corresponde a essa época. Reconstrução virtual baseada nas investigações de Walter L. Friedrich
Texto: Hans-Joachim Löwer
Fotografias: Marc Steinmetz
Reconstrução digital: 7reasons
Foi uma das maiores erupções de todos os tempos. Há cerca de 3.600 anos, um vulcão destruiu Tera, uma ilha do mar Egeu actualmente conhecida como Santorini. A cidade de Akrotiri, na extremidade meridional da ilha, ficou sepultada sob um metro de cinzas e pedra-pomes. Há escavações arqueológicas aqui há vários anos. Agora, pela primeira vez, os investigadores criaram uma representação virtual do quotidiano naquela civilização florescente. Para alguns, Tera até foi a mítica Atlântida.
Sabiam que enfrentavam um poder invisível, inimaginável, impossível de conter, que emanava das profundezas do mar e dominava as alturas.
Liberto por uma força misteriosa, um inquietante vento vindo do Norte fustigava a ilha. Os habitantes de Tera sentiam frequentemente que o solo tremia sob os seus pés, como se um monstro subterrâneo quisesse anunciar a sua chegada.
Porém, os habitantes daquele pequeno recanto do mar Egeu ignoravam o poder de destruição das forças desconhecidas. Aproximadamente no ano 1600 a.C., a actividade sísmica desencadeou um terramoto que destruiu várias casas da ilha. Os habitantes do porto de Akrotiri conseguiram sair para a rua a tempo. Durante dias, foram obrigados a acampar ao ar livre, enquanto retiravam escombros e resgatavam as pedras ainda inteiras para erguer novas habitações.
O sismo, porém, foi apenas o prelúdio do que viria a acontecer semanas depois: o vulcão entrou em erupção. Situada no chamado arco Helénico, Santorini encontra-se numa zona de intensa actividade sísmica. Entre 150 e 170 quilómetros abaixo da ilha, a placa africana mergulha sob a euro-asiática. O magma acumula-se na crosta terrestre como consequência deste processo de subducção. Naquela ocasião, a acumulação foi de tal forma elevada que a pressão abriu as portas do inferno.
Naquele dia apocalíptico, de pouco serviu aos habitantes do Mediterrâneo todo o conhecimento acumulado ao longo da história sobre as forças primitivas que dominavam o seu mundo.
Tudo começou com um rugido surdo e uma escura nuvem cinzenta, quase negra, elevando-se das profundezas da caldeira, aberta há cerca de vinte mil anos por outra erupção vulcânica na região ocidental daquilo que era então uma ilha circular. Uma chuva de cinzas e pedra-pomes começou a cair sobre Akrotiri. Quem pôde agarrou apressadamente alguns objectos pessoais antes de fugir.
Foi então que se ouviu um estrondo ensurdecedor. Uma coluna de cinzas e rochas vulcânicas, provavelmente com mais de trinta quilómetros de altura, subiu até ao céu. Fluxos piroclásticos incandescentes varreram a ilha e a câmara magmática esvaziou-se num abrir e fechar de olhos. Como resultado, o tecto do vulcão desabou e formou-se uma caldeira que poderá ter tido 400 metros de profundidade.
O mar que banhava a ilha começou a borbulhar como uma cafeteira à beira de transbordar. A enorme quantidade de material vulcânico ejectado formou depósitos de até 60 metros de espessura, tal como hoje se observa nas falésias de Santorini, que são as paredes da antiga caldeira. Tudo ficou sepultado: pessoas, casas e praticamente todos os seres vivos das imediações.
É possível que alguns ilhéus tentassem dirigir-se ao porto e fugir de barco. No entanto, na opinião do arqueólogo grego Christos Doumas, que há cerca de meio século investiga o sítio arqueológico, esse cenário é bastante inverosímil. “Não houve seguramente sobreviventes. É provável que o caminho até ao porto seja um rosário de cadáveres enterrados sob a cinza vulcânica.”
Foi uma das maiores catástrofes vulcânicas de que há conhecimento, aquilo que hoje denominamos como erupção supervulcânica, muito mais violenta do que a erupção do Vesúvio no ano 79 da nossa era e semelhante à do Krakatoa indonésio em 1883. Os investigadores tentam calcular o que teria acontecido no Mediterrâneo de seguida.
Estima-se que o estrondo se fez ouvir em locais tão distantes como a Escandinávia. Num raio de 400 quilómetros em redor, a escuridão reinou durante dias inteiros. Tera partiu-se em três partes e emergiram as ilhas menores da Terásia e Aspronisi. A flora e a fauna foram aniquiladas, escreveu o geólogo Walter L. Friedrich, da Universidade de Åarhus. Só sobreviveram ao cataclismo algumas espécies de caracol e de serpente e alguns lagartos e insectos que ocupavam a cota máxima do local, o monte Profitis Ilias, a 565 metros de altitude. Os rios e as fontes ficaram envenenados. O solo permaneceu estéril durante muitas gerações.
fonte: National Geographic