Há várias criaturas que possuem certa tolerância a temperaturas abaixo de zero, mas nenhuma é tão surpreendente quanto a rã madeira do Alasca.
Esse pequeno anfíbio pode sobreviver mesmo sendo quase completamente congelado durante o inverno, podendo praticamente ressuscitar quando chega a primavera.
Durante dias ou até mesmo semanas desse período de hibernação de inverno mais de 60% do corpo da rã é congelado. Sua respiração cutânea é interrompida e seu coração para de bater.
Seus processos físicos, como a atividade metabólica e a produção de resíduos, chegam praticamente a um impasse. "Para todos os efeitos, eles estão mortos", disse Don Larson, um estudante Ph.D. em Fairbanks, Alasca. De acordo com sua pesquisa, rãs madeira podem sobreviver a longos invernos, nos quais as temperaturas variam entre -9°C e -18°C. Na verdade, elas pode passar de 10 a 15 ciclos de congelamento e descongelamento ao longo de uma única estação.
Os investigadores descobriram que a razão para esse fenómeno é a milagrosa alta concentração de agentes crioprotetores presentes nos tecidos da rã madeira. São solutos – incluindo glicose e ureia – que baixam a temperatura de congelamento de células da rã, ajudando-as a sobreviver.
Na maioria dos animais, a exposição a temperaturas abaixo de zero por um longo período de tempo pode causar encolhimento celular. Durante esse processo, a água é puxada a partir de células do organismo para formar gelo, eventualmente secando-as e matando a célula. Mas nessas espécies de rãs madeira os crioprotetores ajudam as células a resistirem ao encolhimento.
"Os solutos tendem a deprimir o ponto de congelamento", disse Jon Costanzo, do Departamento de Zoologia da Universidade de Miami, em Ohio.
"Isso limita a quantidade de gelo que realmente se forma no corpo, em qualquer parte dele". Costanzo pesquisa rãs madeira há 25 anos. Ele queria entender como o sapo poderia funcionar em níveis fisiológicos e químicos.
Graças a esses incríveis anfíbios, os pesquisadores médicos descobriram maneiras pelas quais os órgãos e os tecidos vivos possam ser congelados e descongelados sem serem danificados. Foi importante para áreas como transplantes de órgãos.
"Há um paralelo óbvio entre o que essas rãs estão fazendo para preservar todos os seus tecidos simultaneamente e a nossa necessidade de criopreservar órgãos humanos para fins de correspondência de tecido", explicou Costanzo.
"Se você pudesse congelar órgãos humanos, mesmo que por um curto período de tempo, isso seria um grande avanço, porque então esses órgãos podem ser enviados para todo o mundo, o que seria crucial para a melhora do processo de doadores correspondentes”, completou.