Em busca de melhores empregos e na promessa de mudança de vida, milhares de nigerianas chegam à Itália e sofrem consequências tristes.
Um padre católico suspira orações enquanto atira água benta numa nigeriana de 19 anos que acredita sofrer de uma maldição de vodu. Os dois estão numa cidade chamada Trieste, na fronteira da Itália com a Eslovénia.
A jovem é “Flavour”, uma das 25 mil mulheres da Nigéria que migraram para a Europa esperando encontrar um emprego de cabeleireira ou algo semelhante, mas tudo o que encontraram foi a prostituição. Segundo acredita, há um ninho de insetos dentro de seu corpo, que irá a matar aos poucos. Então, o religioso faz um ritual para desfazer o castigo. As informações são do Daily Mail.
A família de “Flavour” pagou cerca de 80 mil euros para a viagem até o país europeu, o que necessitaria de 4 mil clientes (que pagam entre 10 e 20 euros pelo programa da jovem). Da mesma maneira que aconteceu para outras mulheres, como a promessa de emprego melhor não se concretizou, Favor acredita que deve obediência - ou enfrentaria consequências terríveis.
Apesar de a ligação com a cafetina que a trouxe até a Itália ser apenas psicológica, a jovem acredita realmente que seu corpo – que está coçando em várias partes – sofre de uma maldição realizada por desacato. Isso porque antes de sair da Nigéria, as meninas passam por um ritual em que prometem fidelidade à “madame” através do sangue derramado de uma galinha, promessa esta que daria sorte em sua viagem.
No ritual, elas têm unhas cortadas, pelos cortados e um processo de "embelezamento". Assim, muitas migram com um “amuleto da sorte” - um pequeno pacote que foi preparado e serve como uma expressão 'concreta' do acordo.
Nele, estão pedaços de unhas e pelos arrancados – além de roupas íntimas com restos de sangue menstrual. Outros objetos comuns são nozes, peças de metal e sabão para simbolizar a lealdade ao poder da divindade Ogum.
Segundo a lenda entre as mulheres, as meninas que não cumprem ou voltam atrás em suas promessas tornam-se loucas, mudas ou morrem. Então, mesmo colocadas em condições terríveis, tendo de trabalhar como prostitutas por mais de 12 horas por dia, elas continuam cumprindo a "promessa" e, quando tentam escapar, sofreriam consequências da maldição - assim como Flavour acredita estar a passar por uma morte lenta.
No desespero para romper tal domínio sobre as meninas, muitas das quais são enviadas nos barcos que atravessam o Mediterrâneo, os italianos têm recorrido a padres católicos para realizar “exorcismos” sobre elas.
Autoridades italianas já descobriram que é inútil dizer às meninas que a magia não tem nenhum poder. Francesca de Masi, socióloga de uma instituição que trabalha com as mulheres traficadas, explica que “dizer-lhes que o vodu não é real, é presunçoso. Isto não leva em consideração o contexto de onde vêm”.
Assim, além da Igreja e seu exorcismo, instituições têm trabalhado contra tais superstições de maneira a respeitar as crenças das nigerianas. A ONG Save The Children, por exemplo, tenta recuperar o psicológico das mulheres feitas de escravas sexuais no país, além de trazer condições melhores para suas vidas.
fonte: Terra