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Antepassado de humanos e grandes símios terá sido mais parecido com um… gibão

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Ilustração científica do aspecto que teria o novo primata MARTA PALMERO/INSTITUTO CATALÃO DE PALEONTOLOGIA MIQUEL CRUSAFONT


Ilustração científica do crânio do novo primata INSTITUTO CATALÃO DE PALEONTOLOGIA MIQUEL CRUSAFONT


Reconstituição virtual do crânio do novo primata baseada em imagens de TAC INSTITUTO CATALÃO DE PALEONTOLOGIA MIQUEL CRUSAFONT


O crânio visto por baixo INSTITUTO CATALÃO DE PALEONTOLOGIA MIQUEL CRUSAFONT


Ossos do braço esquerdo de Pliobates cataloniae: húmero (A), rádio (B); e ulna (C)
INSTITUTO CATALÃO DE PALEONTOLOGIA MIQUEL CRUSAFONT


Vista panorâmica do Aterro de Can Mata, onde foram encontrados os fósseis do novo primata
JOSEP M. ROBLES/ INSTITUTO CATALÃO DE PALEONTOLOGIA MIQUEL CRUSAFONT


Representação do meio ambiente e de algumas das espécies que viviam na região de Els Hostalets de Pierola há uns 12 milhões de anos OSCAR SANISIDRO/INSTITUTO CATALÃO DE PALEONTOLOGIA MIQUEL CRUSAFONT

Em meados do Mioceno – há mais de dez milhões de anos – na actual província de Barcelona, a zona hoje ocupada pela freguesia de Els Hostalets de Pierola era de floresta cerrada. O clima húmido e quente que lá reinava – e a abundância de pontos de água fresca – favoreciam a diversidade da fauna.

Hoje, a riqueza dos fósseis que têm vindo a ser encontrados naquela zona nos últimos 13 anos – mais precisamente num conjunto de escavações arqueológicas realizadas no Aterro de Can Mata – atestam da riqueza daquela antiga vida animal.

Era ali que vivia, há 11,6 milhões de anos, um pequeno primata, hoje extinto – “um trepador lento e cauteloso”, dotado de uma grande flexibilidade de movimento e de alguma capacidade de se pendurar dos ramos, que comia fruta madura –, e cujos restos fósseis foram descobertos em 2011. Agora, o estudo da morfologia desse primata – publicado na revista Science com data de sexta-feira pela equipa de Salvador Moyà-Solà, da Universidade Autónoma de Barcelona – vem não só definir uma nova espécie de primatas, como também pôr em causa certas ideias feitas acerca das primeiras fases da evolução dos hominídeos. Mais precisamente, segundo os autores, os seus resultados permitem concluir que o último antepassado comum aos hominídeos e aos gibões actuais não tinha bem o aspecto que se pensava. A nova espécie foi baptizada Pliobates cataloniae.

Os hominídeos actuais incluem os grandes símios (chimpanzés, gorilas e orangotangos) e os humanos. E na árvore da vida, o ramo que daria origem aos hominídeos terá divergido do ramo dos símios mais pequenos, dos quais os gibões são os representantes actuais, há uns 17 milhões de anos, explica em comunicado a Associação Americana para o Avanço da Ciência, editora daScience.

Como terá sido o mais recente antepassado comum a grandes e pequenos símios? O registo fóssil, muito incompleto, sugeria até agora que o tamanho corporal daquele antepassado estaria mais próximo do dos grandes símios. É justamente essa visão que a descoberta agora anunciada veio, segundo os autores do estudo, radicalmente alterar.

“Até aqui, a maioria dos cientistas pensava que, como todos os fósseis de [símios] descobertos eram de grande tamanho, o último antepassado comum aos gibões e aos hominídeos tinha tido, ele também, um corpo grande”, explica David Alba, do Instituto Catalão de Paleontologia Miquel Crusafont e primeiro autor do trabalho, citado num comunicado da sua instituição. “Mas esta descoberta vira tudo ao contrário.”

De facto, surge assim um símio, até aqui desconhecido, que, apesar de ter vivido milhões de anos depois da suposta divergência entre grandes e pequenos símios era claramente muito pequeno. Pesava entre quatro e cinco quilos e tinha um tamanho comparável ao dos mais pequenos gibões actuais, explica o mesmo documento.

“É a primeira vez que um fóssil de primata desse tamanho apresenta um conjunto de características comuns aos hominídeos e gibões, presumivelmente herdados do último antepassado comum a todos eles, que viveu provavelmente em África vários milhões de anos antes de Pliobates cataloniae”, lê-se ainda no comunicado.

Os restos fósseis de Pliobates cataloniae (que recebeu entretanto a alcunha de “Laia”, diminutivo de “Eulalia”, padroeira de Barcelona) são compostos por 70 fragmentos, incluindo a maior parte do crânio e várias partes das articulações do cotovelo e do pulso. Ora, apesar de algumas das suas características serem muito primitivas, a anatomia do braço da nova espécie possui a arquitectura de base dos hominídeos e dos gibões actuais.

Segundo os autores, que realizaram uma minuciosa análise morfológica dos restos fósseis, tudo indica que Pliobates cataloniae se situa extremamente perto do nó da árvore dos símios que deu origem aos hominídeos e aos gibões actuais.

“Estes resultados sugerem que, pelo menos em termos de tamanho e de morfologia craniana, o mais recente antepassado comum aos [hominídeos e gibões] poderá ter sido mais parecido com os gibões (e menos parecido como os grandes símios) do que geralmente se supõe”, concluem os cientistas no seu artigo naScience.

Segundo David Alba, os resultados também fornecem “pistas muito sólidas” sobre a origem dos gibões actuais, “que tinha permanecido misteriosa devido à falta de registos fósseis”.

fonte: Público


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