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Náufrago guardou corpo de amigo morto com medo da solidão

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José Salvador Alvarenga sobreviveu 14 meses no mar

O náufrago que surpreendeu o planeta ao sobreviver 14 meses em alto mar revelou que manteve o corpo do colega já morto para lhe fazer companhia.

José Salvador Alvarenga, um pescador de 36 anos de El Salvador, foi notícia em janeiro do ano passado ao reaparecer 438 dias depois de desaparecer num naufrágio no Oceano Pacífico.

Depois de se recusar a dar entrevistas sobre o que lhe tinha acontecido durante o ano que viveu no mar, agora decidiu revelar, pela primeira vez, alguns dos pormenores da sua história ao jornal The Guardian.

Durante as cerca de quarenta entrevistas que deu ao jornalista do jornal britânico, Alvarenga acabou por confessar o que aconteceu ao colega que seguia com ele no barco no momento em que pediu SOS.

Ezequiel Córdoba, de 22 anos, seguia com ele na embarcação e acabou por morrer no mar depois de quatro meses a lutar pela vida com José Salvador. Juntos tiveram de beber a própria urina e conceber maneiras engenhosas para capturar peixe, aves e até tartarugas... mas o companheiro de agruras acabou por sucumbir à depressão e ficar doente.

"Estava com tanta fome que até comia as próprias unhas. Engolia todos os pedacinhos", explicou o pescador, mas o companheiro não o acompanhava, recusando-se a comer.

"Ele pedia-me para pedir desculpa à mãe dele por não lhe dizer adeus e para lhe dizer que ela o devia esquecer, que ele agora ia estar com Deus", contou José.

Uma manhã, Córdoba pareceu desistir. "Estou a morrer, Estou quase a partir", disse-lhe. "Não penses nisso, vamos mas é dormir uma sesta", incentivou Alvarenga.

Ezequiel deixou de lhe responder e acabou por morrer momentos depois. Alvarenga entrou em pânico e pediu ao companheiro para não o deixar sozinho, mas já era tarde.

Durante seis dias, Alvarenga ficou com o corpo do companheiro no barco, com quem continuava a falar normalmente, a tentar ignorar a sua morte. Estava sem coragem para o deitar ao mar e com medo de não aguentar a solidão.

"Primeiro, lavei-lhe os pés. Depois despi-o, pois a roupa dele era necessária. Vesti a camisola que ele tinha, vermelha e com pequenos desenhos, e atirei-o à àgua. Enquanto o fazia, acabei por desmaiar", confessou.

Até hoje, ainda se condena pela morte do colega, que havia conhecido momentos antes de se fazerem ao mar pela primeira vez. "Por que razão morreu ele e não eu? Fui eu que o convidei a pescar. Culpo-me pela sua morte", desabafou.

Mesmo assim, o suicídio nunca lhe passou pela cabeça, "culpa" da mãe que lhe ensinou que quem o faz não chega ao Céu. No fim, foi essa vontade de viver que o manteve vivo.

"Sofri fome, sede e solidão extrema e, mesmo assim, não terminei com a minha vida", salienta Alvarenga. "Só tens uma oportunidade para viver... Tens de a aproveitar", rematou.



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