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Plutão. Um estranho mundo que pode ter um oceano lá dentro

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Primeiros estudos sobre os dados enviados pela sonda New Horizons foram publicados na Science. Há ali processos geológicos ativos e muita diversidade mineral

No dia 14 de julho do ano passado, a sonda New Horizons, da NASA, fez um sobrevoo histórico junto a Plutão - passou à "curtíssima" distância de 12.550 quilómetros da sua superfície - e recolheu uma bateria de dados que continua, ainda agora, a caminho da fronteira do sistema solar, a enviar para a Terra. Os primeiros estudos sobre as observações que a nave fez, publicados esta semana na revista Science, mostram que aquele é um mundo ainda mais bizarro do que os cientistas supunham, onde parece haver criovulcanismo (das erupções, em vez de lava, brotam compostos gelados) e, possivelmente, um oceano subterrâneo.

Um dos grandes contributos da New Horizons foi o de mostrar em grande detalhe uma paisagem que era inteiramente desconhecida e que, segundo um dos cinco estudos agora publicados, se revela movediça, porque desde há centenas de milhões de anos que ela se tem alterado, refeito, e modificado devido aos processos geológicos ali em curso. Como é que isso acontece? Os investigadores supõem que o planeta-anão nos confins do sistema solar tem um núcleo interno feito de minerais radioactivos que, pela sua natureza, transmitem calor aos materiais geológicos até à superfície, deformando-os e, possivelmente causando o seu degelo nalguns pontos ­ daí a possibilidade de um oceano sub-superficial.

Entre os inúmeros compostos gelados identificados na superfície de Plutão estão o metano, o azoto, o monóxido de carbono e, sim, também há ali água.

"A distribuição dos diferentes materiais à superfície é incrível. Nunca tínhamos visto nada assim no sistema solar", afirmou Anne Verbiscer, da Universidade de Virginia, uma das autoras desse estudo, citada na revista The Verge.

Atmosfera densa e poucas poeiras

Duas semanas depois da missão histórica, e com os primeiros dados na mão, os cientistas associados à New Horizons já conseguiam dizer que havia estruturas geológicas nítidas na superfície daquele pequeno mundo gelado.

Até então, o que poderia ali ser descoberto era uma incógnita. Depois do voo da New Horizons, a grande novidade foi a descoberta de estruturas geológicas, ponto. Uma delas erauma montanha gelada, com 3,5 quilómetros de altitude.

Agora o retrato é bem mais completo, com uma nova visão da grande diversidade química e uma riqueza inesperada de paisagens.

A atmosfera é outra surpresa. Os primeiros dados mostraram logo uma atmosfera que devia conter partículas porque, visto pelas lentes da New Horizons, Plutão surgiu envolto num halo azulado ­ um efeito de dispersão da luz que em geral é causado pela presença de partículas.

O estudo publicado agora na Science sobre a atmosfera plutónica vai bem mais longe e mostra, não sem alguma surpresa, que a atmosfera do pequeno planeta é mais fria e mais compacta do que se esperava, com camadas sobrepostas de "nevoeiros", que se tornam menos frios à medida que eles surgem a maiores distâncias em relação da superfície.

Mas estas não são as únicas novidades que chegam de Plutão, que, surpreendentemente também, quase não tem poeiras - restos de materiais planetários - em torno de si. Porquê? A resposta parece ser simples: o espaço é sobretudo esse vazio. "Os restos de poeiras que restaram do processo que deu origem a Plutão e às suas luas há muito que foram removidos pelos processos planetários", afirma Fran Bagenal, que liderou a experiência a bordo da New Horizons programada para fazer a meticulosa contagem das poeiras.

Nesta altura, que a New Horizons já vai mais além, os dados indicam maior número de poeiras na região que ela agora atravessa, o que "é, possivelmente um sinal de que já estamos na fronteira interna da cintura de Kuiper", sublinha Bagenal. O que aí vem é uma nova fase da aventura New Horizons.



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