Ilustração científica do Matheronodon provincialis LUKAS PANZARI
Munido de uns dentes capazes de cortar como tesouras, conseguia alimentar-se de plantas duras e ricas em fibras.
Descobertas de dinossauros tem havido muitas ao longo dos tempos, pelo menos desde que sabemos que estes animais existiram e que o termo “dinossauro” foi cunhado em meados do século XIX pelo inglês Richard Owen. Mas nem todos já são notícia, como é o caso agora de uma espécie nova para a ciência descoberta em Velaux, no Sul de França. Este dinossauro herbívoro de que vamos falar, que viveu há aproximadamente 84 milhões a 72 milhões de anos, tinha uns dentes dignos de nota, como destaca o artigo científico que o descreveu esta quinta feira na revista Nature.
Era um rabdodonte, um grupo de dinossauros predominantemente exclusivo da Europa durante o período Cretácico. Os fósseis da nova espécie de rabdodonte — a Matheronodon provincialis — mostram que ela tinha uns dentes extremamente largos, com uma ponta — com cerca de seis centímetros de comprimento — idêntica a um cinzel, um instrumento manual com uma extremidade aguçada semelhante a uma lâmina de metal.
“O novo rabdodonte é caracterizado por um alargamento extremo da dentição quer do maxilar quer da mandíbula, relacionado com uma redução drástica do número de dentes no maxilar”, lê-se no artigo científico, cujo autor principal é Pascal Godefroit, do Instituto Real Belga de Ciências Naturais.
Ao examinar a microestrutura dos dentes, verificou-se que os sulcos ao longo do lado mais espesso e esmaltado da coroa formam uma borda afiada e irregular. Os cientistas sugerem que a dentição e o aparelho de mastigação desta nova espécie foram concebidos para produzir uma acção poderosa de corte como um par de tesouras, adequando-se ao consumo de plantas duras, ricas em fibras.
Reconstituição do maxilar, com a implantação dos dentes, por tomografia computorizada ULYSSE LEFÈVRE/RBINS
“A sofisticação do seu mecanismo de alimentação tem sido identificada como o elemento-chave do sucesso evolutivo e da diversificação dos ornitópodes”, salienta ainda o artigo, referindo-se a uma subordem de dinossauros onde estão os rabdodontes.
E se os dentes invulgares do Matheronodon provincialis permitiam que aproveitasse plantas que outros dinossauros não conseguiriam comer, também nos fazem pensar noutro senhor dos tempos cretácicos com uns dentes igualmente dignos de referência, o famoso T-rex. Mas se um era mais dado às plantas, o outro devorava carne. O fim de ambos é que chegou há 65 milhões de anos, quando um meteorito, ao que muitas provas indicam, os varreu da Terra.
fonte: Público