Representação artística de uma tempestade solar em Marte a arrancar iões das camadas superiores da atmosfera do planeta NASA/GSFC
Esta é uma das conclusões a que chegaram os especialistas com base nos resultados científicos obtidos com a sonda orbital Maven da NASA.
As erupções solares terão provocado o desaparecimento de grande parte da atmosfera marciana quando o planeta vermelho era ainda jovem, perturbando radicalmente o seu clima, que até à essa altura era propício à vida. Estes resultados, decorrentes de uma de quatro análises agora realizadas a partir dos dados coligidos pelos instrumentos da sonda Maven, da agência espacial norte-americana NASA, foram publicados na revista Science com data desta sexta-feira.
“A erosão provocada pelos ventos solares é um mecanismo importante de perda da atmosfera e foi suficientemente importante para perturbar profundamente o clima de Marte", disse Joe Grebowsky, responsável científico da Maven, durante uma conferência de imprensa telefónica.
As medições realizadas pela sonda orbital na alta atmosfera de Marte, durante uma erupção solar na passada Primavera, mostram uma taxa de escape nitidamente acelerada – dez vezes mais rápida do que é normal – de partículas ionizadas para o espaço. Ora, isso é um bom indicador do mecanismo que terá provocado a fuga de grande parte da atmosfera de Marte, transformando aquele planeta no grande e árido deserto que conhecemos hoje, explicou por seu lado Bruce Jakosky, da Universidade do Colorado e um dos co-autores do estudo.
Dada a probabilidade de estas erupções terem sido mais frequentes durante a infância do sistema solar do que agora, os cientistas sugerem que as taxas de escape das partículas que formavam a atmosfera de Marte estavam fortemente ligadas à actividade solar.
Os instrumentos da Maven (Mars Atmosphere and Volatile Evolution) fornecem uma visualização do campo magnético de Marte a ser bombardeado por jactos de matéria ionizada durante a poderosa erupção solar do passado mês de Março. “Marte parece ter possuído uma atmosfera espessa e suficientemente quente para permitir água líquida, um ingrediente essencial à existência de vida tal como a conhecemos”, fez notar John Grunsfeld, responsável pelas missões científicas da NASA.
“Perceber o que se passou com atmosfera de Marte vai permitir-nos esclarecer a dinâmica e a evolução da atmosfera dos planetas em geral”, acrescentou.
Um outro estudo, também publicado na mesma edição da Science, indica que a densidade do oxigénio atmosférico de Marte é maior do que se pensava até aqui. Stephen Bougher, da Universidade do Michigan (EUA), analisou os dados recolhidos aquando de dois mergulhos da Maven na atmosfera marciana, para determinar a natureza da termosfera e da ionosfera do planeta (duas das camadas da atmosfera).
Durante estas explorações, os instrumentos da sonda também detectaram importantes variações de temperatura em função da altitude, bem como misturas estáveis de dióxido de carbono (CO2), de árgon e de protóxido de azoto (N2O).
Aurora boreal
Uma terceira análise dos dados vindos da Maven mostra uma aurora boreal a uma altitude de apenas 60 quilómetros, muito semelhante às que podemos observar na Terra – o que constitui uma observação sem precedentes.
Por último, um quarto trabalho, liderado por Laila Andersson, da Universidade do Colorado (EUA), consistiu na análise das nuvens de poeiras detectadas a altitudes compreendidas entre 150 e 1000 quilómetros da superfície do planeta. Não se conhece nenhum processo capaz de transportar tais concentrações de poeiras a estas altitudes, explicam os autores, que excluem que as luas de Marte possam exercer uma atracção gravitacional suficiente para explicar o fenómeno, dado o tamanho e a distribuição das partículas. Segundo eles, tratar-se-á, antes, de poeiras de origem interplanetária.
A sonda Maven possui oito instrumentos, entre os quais um espectrómetro de massa para determinar a estrutura molecular dos gases atmosféricos e o sensor SWEA (Solar Wind Electron Analyser), que analisa o vento solar e foi desenvolvido pelo Instituto Francês de Investigação em Astrofísica.
Lançada a 18 de Novembro de 2013 do Cabo Canaveral, na Florida (EUA), a Maven, que pesa 2,45 toneladas, inseriu-se na órbita de Marte em Setembro de 2104.