Fotografia © NASA/JHU APL/SwRI
NASA divulgou ontem a primeira imagem da superfície de Plutão, onde há montanhas que se elevam a mais de três mil metros.
Eram 20.30 (hora de Lisboa), quando a NASA divulgou, ontem, a primeira imagem das muitas que a sonda New Horizons fez da superfície de Plutão, quando ali passou à distância de 12 550 quilómetros, na terça-feira. A preto e branco, a foto mostra pela primeira vez em 85 anos de observações - Plutão foi descoberto em 1930 - estruturas geológicas perfeitamente nítidas na sua superfície.
"São grandes novidades", congratulou-se o principal investigador da missão, Alan Stern, durante a conferência de imprensa em que esta primeira imagem foi divulgada, juntamente com a primeira leitura sobre os dados.
O que se vê naquela foto, que mostra em detalhe uma pequena zona de Plutão que faz parte da enorme mancha em forma de coração que a New Horizons já tinha identificado durante a aproximação (ver imagem ao lado), são montanhas geladas, que se elevam a 3,5 quilómetros de altitude.
A sua primeira análise, feita ontem também pela equipa, revela que Plutão é um planeta ativo, que aquela zona de rocha gelada é relativamente recente, terá algo como cem milhões de anos, e que o gelo é feito de água e não de hidrogénio ou de metano, como explicou, por seu turno, John Spencer, outro dos investigadores do projeto.
"Neste momento a sonda já está mais de 1,6 milhões de quilómetros para lá de Plutão", adiantou Alan Stern na ocasião, sublinhando que a sonda continua "de boa saúde" e a fazer observações.
"Hoje [ontem] recebemos dados de cinco dos [sete] instrumentos da sondas durante algumas horas", contou o cientista principal, notando que as novidades que eles já permitem verificar mostram que o conjunto de todos os dados "que estão agora armazenados na sonda tem muito para nos ensinar sobre Plutão".
Os cientistas da missão revelaram também que a mancha em forma de coração que a New Horizons deu a conhecer nos últimos dias da sua aproximação "ao pequeno planeta" - os cientistas da NASA, pelos vistos, preferem esta designação à oficial, que o classifica como planeta-anão - também já tem um nome definitivo. Eles decidiram chamar-lhe Tombaugh Regio, em homenagem ao jovem astrónomo norte-americano Clyde W. Tombaugh, que, após um ano de observações sistemáticas no Observatório Astronómico Lowell, no Arizona , descobriu Plutão, em 1930.
Depois da revelação destes primeiros dados, e depois de quase dois dias ininterruptos cheios de expectativa e de muito entusiasmo, a equipa da New Horizons espera ter mais novidades para apresentar amanhã, depois de ter mais dados enviados pela sonda. Como sublinhou Alan Stern, esta foi apenas "a primeira de muitas lições que Plutão tem para nos ensinar".
Rumo ao desconhecido
Após o encontro imediato com Plutão e com a sua maior lua, Caronte, que pela primeira vez foi também olhada de perto, a New Horizons seguiu o seu caminho e só sete horas depois deu sinal de vida. Uma espera que foi quase uma guerra de nervos, mas que acabou em bem, como se sabe.
O tão esperado sinal de rádio, enviado pela nave dos confins do sistema solar, chegou à hora certa, já de madrugada, quase às duas da manhã de ontem, em Lisboa. Quando Alice Bowman, a diretora de operações no centro de controlo de voo, instalado no Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, disse as tão esperadas palavras "temos a telemetria, ela está de boa saúde", a expectativa deu lugar a uma vaga de aplausos.
Agora a New Horizons já se encontra muito para lá de Plutão, e está a embrenhar-se cada vez mais na Cintura de Kuiper, na fronteira do sistema solar, onde se albergam muitos mais "pequenos planetas", ou "pequenos corpos gelados", como lhes chamam os cientistas da New Horizons.
Os dados que receberam dela ontem, e que permitiram apresentar pela primeira vez uma imagem de Plutão radicalmente diferente daquelas que estávamos habituados a ver, são apenas o princípio de todo um novo capítulo que começou agora a escrever-se sobre o planeta-anão e as suas cinco luas. Os dados que a sonda tem armazenados depois deste encontro vão levar 16 meses a ser enviados para a Terra. E o que se segue é mais um mergulho no desconhecido.